
A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA JCE
Graça Lobo
A escolha deste tema de investigação prendeu-se com a minha experiência como professora durante 20 anos e a constatação de como o cinema era pouco trabalhado na Escola, sendo normalmente utilizado apenas pelas questões temáticas.
Se redigisse de novo este artigo, colocaria maior ênfase nas questões da literacia fílmica, por me parecer essencial que este dado entre na formação de professores e alunos, numa época predominantemente mediática.
Os 14 anos de trabalho ininterrupto no Programa Juventude/Cinema/Escola têm vindo a demonstrar o sucesso da metodologia do Programa, tendo havido algumas reformulações e algumas estratégias extra.
Certas questões que podem vir a ser estudadas passam pela avaliação de um processo de longo curso, por parte dos alunos, bem assim como a validação de uma vertente artística na Escola, a que todos os alunos devem ter acesso.
A investigação nesta área em Portugal, ainda é pouco consistente, no entanto, há artigos de Vítor Reia Batista, Manuel Pinto, ou mais recentemente a Tese de Mestrado de Pedro Félix recomendados para compreender estas questões em Portugal.
Penso que as tendências futuras nesta área de investigação,passam por uma verdadeira análise do Cinema na Escola como possibilidade de desenvolver competências nos alunos. Há também uma questão que se relaciona com a expressão através do cinema, posição que, não sendo antagónica ao que preconizo, não é a questão essencial deste Programa, dado que penso ser mais exequível a formação de públicos para cinema na Escola, embora seja sempre possível a experimentação artística. Nesse sentido, são importantes Disciplinas de Opção de Cinema, tal como existem em seis escolas do Algarve.
Não tendo alterado a minha perspetiva, tenho refletido sobre alguns textos, como o de Alain Bergala e “ L´hipotéseCinéma”, estando a trabalhar, a partir de dados concretos, naquilo a que designo como “um choque artístico sustentado” na programação fílmica.
Outra questão que me parece muito importante tem a ver com o trabalho de formação de professores para a abordagem fílmica, bem como a criação de materiais pedagógicos que possam apoiar o trabalho em sala de aula.
No futuro próximo, pretendo dar continuidade ao trabalho apresentado, inserindo dados que têm vindo a ser recolhidos e tratados, bem assim como a análise de experiências como o novo Projeto “ VER para LER”, que faz a ligação entre o Programa JCE e a Rede de Bibliotecas Escolares do Algarve ou a experiência do projeto “ Vou Levar os meus pais ao cinema”, que aponta para uma ligação entre a Escola e a comunidade e pretende criar possibilidades de autonomia aos alunos, no processo de desenvolver um evento.
Abstract
This communication will focus on the Programa JCE/Juventude-Cinema-Escola.
The programme has been in the field for the last 12 years (since 1998) under the responsibility of the Regional Board of Education of the Algarve (Ministry of Education) in the entire region. With its origins in a Masters thesis, it is a programme that works towards developing cinema literacy and has had up until now 60 of the 67 public schools of the area involved in it, along with its 25,000 students, 1,250 teachers and 1,200 viewing sessions.
JCE Programme has been sponsored by ICA, the Portuguese Institute of Cinema and by Fundação Gulbenkian.
The JCE Schools’ Network has major goals:
Establishing a teaching curriculum for progressive learning from the 5th to the 9th grade and from the 10th to the 12th grade. (Also based on this programme a new subject has been developed for students attending the primary school grade.);
Facilitating textual analysis;
Promoting oral, written and audiovisual expressions;
Allowing students to obtain critical decoders of media messages;
Using and creatively manipulating media;
Knowing cinema as an artistic expression, throughout its history, language and aesthetics;
Relating cinema with school subjects. (Network teachers are from a variety of areas such as history, languages, science and art.);
Bringing the schools and its respective communities closer;
The JCE Programme has been progressively expanding itself to train teachers and students in the area of cinema, under the motto: To watch, to learn, to love Cinema.
Keywords: Network, Improving literacy, Progressive learning, To watch, to learn, to love Cinema.
Pressupostos prévios
«A imagem mental é “estrutura essencial da consciência, função psicológica”. Não é possível dissociá-la da presença do mundo no homem, da presença do homem no mundo. É, para ambos, intermediário recíproco. Ao mesmo tempo, contudo, a imagem não passa de um duplo, de um reflexo, isto é, de uma ausência. Sartre diz que “a característica essencial da imagem mental é uma certa forma de o objecto estar ausente na sua própria presença”. Acrescente-se também o recíproco: de estar presente na sua própria ausência. (…) A imagem é uma presença vivida e uma ausência real, uma presença-ausência.»1
Esta definição de “imagem” sinaliza primeiro que não há presença nem do mundo no homem (fenómeno da percepção), nem do homem no mundo (como, por exemplo, através das actividades que a ela recorrem, como o cinema), sem ela - ela medeia a relação entre eles, é o seu intermediário; depois, acentua que esta imagem, não sendo o objecto (mas sim uma sua imagem), é um duplo e, assim, uma ausência (o que possibilita o imaginário); por último, esclarecendo que essa imagem, ao não ser o objecto, o torna mesmo assim presente (o que potencia a intransigência de realidade).
Porque de mediação, entre cinema e escola, se fala, porque de tomar consciência de quanto “imaginário” e “realidade” se entrecruzam e contaminam, tanto no cinema como na escola, se trata, a longa citação feita introduz o projecto que une ambos esses domínios - o Programa JCE.
Ontogeneticamente falando, sabemos que os seres humanos constroem imagens desde os primeiros tempos de vida. Um bebé rapidamente associa imagens aos seres e, depois, aos objectos. “Ler imagens”, contudo, é, enquanto processo intrínseco a partir da estimulação exterior, uma competência obrigada a uma história própria. E certos autores, como Jean Piaget, demonstraram que é uma competência que se desenvolve em paralelo com a aquisição e domínio da linguagem verbal, ambas (descodificação da imagem e codificação linguística) participando no e do processo do desenvolvimento da inteligência.
A teoria operatória piagetiana defende a profunda interacção entre as capacidades inatas do indivíduo e a influência que o meio - através da acção do próprio indivíduo - nelas tem. Todas as percepções básicas (do espaço, do tempo, da velocidade, da causalidade), isto é, todas as condições para a percepção da imagem, “consistem em actividades muito mais complexas que simples leituras e manifestam já uma organização pré-lógica ou pré-inferencial, de tal forma que, num certo sentido, estas actividades prefiguram as da própria inteligência.”2 O mesmo é dizer, os conhecimentos não derivam exclusivamente da percepção, mas a própria percepção não consiste ela também numa simples leitura dos dados sensoriais - conhecimentos e percepção comportam uma “organização activa”, para utilizar a expressão de Piaget. Assim, “ler imagens” é causa e consequência de inteligência, se por esta se entender a operatividade lógico-conceptual em íntima ligação com o mundo dos afectos no interior dos quais tal operatividade cimenta as suas estruturas.
Dito de outra maneira, se o mundo está cheio de objectos cujas imagens construímos desde os primeiros tempos de vida, os mecanismos da leitura propriamente pictórica desenvolvem-se até aos 12 anos. E, recorrendo de novo aos estudos piagetianos, reforçaríamos a certeza de que, consoante as estruturas cognitivas de cada momento, assim a criança consegue, ou não, descodificar a imagem (interpretando-a através do domínio dos seus códigos específicos) e entendê-la como um signo. Esta evidência não inibe a complexidade envolvida nessa evolução - conforme várias experiências e estudos comprovam3 -, nem, muito menos, a importância que a educação para a imagem e através da imagem indubitavelmente tem.
Por um lado, porque numa civilização como a nossa, desde a Antiguidade marcada pelos dispositivos teóricos e pelos conceitos específicos da visão, o mundo conceptual é um mundo do olhar, muito mais do que dos sons, dos cheiros ou do tacto4. A palavra está em proporção com o número de imagens com que nos confrontamos: ou porque, ao ser conceito abstracto, é materializada em metáfora visual, ou porque, e inversamente, ao ser discursiva, é absorvida pela força da imagem que a ela se associa5.
Mas, por outro lado, porque olhar não é um acto unívoco e a apreensão das imagens não é universal: “…a percepção depende de vários factores, uns de carácter individual, outros de carácter sóciocultural (…), uns de carácter sintáctico, outros de carácter semântico e pragmático.”6 Nenhuma imagem é neutra, passiva ou inocente - há que ter em conta o conjunto de códigos para a leitura dos signos (dominado ou a dominar pelo indivíduo), a polissemia dos signos que depende do conjunto de referentes sociais, culturais e ideológicos (dominado pelo ou dominante do indivíduo, tendo em conta as condicionantes socioculturais que podem escapar ao controle do próprio sujeito) e, para além destes conjuntos “visíveis”, as mensagens subliminares inferidas e a complexificação que elas neles introduzem.
Tendo em conta a particularidade das imagens em movimento neste contexto, e, de entre elas, aquelas que caracterizam o olhar cinematográfico, há outros aspectos a ter em perspectiva.
A especificidade do cinema encontra-se na descontinuidade espaço-tempo, motivada pelo movimento, o ritmo e a montagem. Assim no caso do cinema, penso que se pode apelar a uma análise tanto do associacionismo como do gestaltismo, teorias da percepção que, a primeira, defende que a percepção resulta da associação das várias sensações compósitas e que, a segunda, defende que ela depende da “forma” ou estrutura na qual se integra o(s) objecto(s) percepcionado(s). Porquê? Porque as visões fragmentárias de um filme (no sentido, antes de mais, em que este se oferece como junção de vários fragmentos, mas também naquele outro em que de um filme podemos elaborar análises fragmentadas e, ainda, que percepcionamos um filme dessa maneira) concorrem para uma visão global dele, visão global por sua vez determinada pela forma ou contexto ou estrutura na qual está integrado (estilo e/ou filmografia do autor, época, modo de produção, corrente estética no qual se integra, meio e condições de recepção, etc.).
Assim, a “leitura” no ecrã de um plano combina dois tipos ou dois momentos de visões fragmentadas - a do próprio acto perceptivo e aquela que é operada pelo próprio filme. A “percepção objectiva”, para utilizar a expressão de Morin7, deriva da reconversão na sua simultaneidade das acções paralelas, da junção de diferentes pontos de vista dessa mesma acção, e «sucessão e alternância são as próprias formas pelas quais nós nos apercebermos dos acontecimentos»8 O espectador é quem fornece a visão global de dois tipos de desdobramento concomitantes: a fragmentação do próprio acto perceptivo e aquela que ocorre e é oferecida pelo próprio fluxo das imagens em movimento. Ainda mais quanto o cinema e os seus processos fundamentais, «tendentes a pôr em prática e a excitar a mobilidade, a globalidade e a ubiquidade da visão psicológica, correspondem, simultaneamente, a fenómenos de percepção prática e a fenómenos de participação afectiva.»9 Já Gilles Deleuze aponta no mesmo sentido, mesmo que por uma outra via mais restritiva (a da autonomização da imagem cinematográfica devido a ser expressão do movimento), segundo Meseguer: «Deleuze enumera três tipos de imagen filmica: imagen- percepción, imagen-acción e imagen-afección, según predomine en ellas el proceso perceptivo, el proceso narrativo o el proceso expresivo.»10 Em ambos os autores, como vemos, se encontra a defesa não só da complexidade da própria imagem cinematográfica ou fílmica e de como a ela acedemos e de como a construímos, mas igualmente de quanto diferentes níveis de recepção e descodificação se encontram presentes, da percepção enquanto tal à percepção “afectiva”. O que interessa reter é quanto a percepção é um fenómeno cognitivo-afectivo, e como isso não se deve perder de vista no momento do encontro do espectador (escolar também, naturalmente) com o filme. Segundo Meseguer, as características da imagem cinematográfica estão divididas em “realidade material com valor figurativo, realidade estética com valor afectivo e realidade material com valor figurativo.»11 Trata-se assim de as saber distinguir para as poder definir e dominar, de forma a ter consciência de que na recepção dos produtos mediáticos, adoptando a terminologia de Stuart Hall, podem ocorrer três tipos de “leituras”:
«Dominante (quando a descodificação corresponde ao sentimento dominante codificado), negociada (quando o descodificador, compreendendo o sentido codificado, o adapta e modifica de acordo com os seus valores), e oposicional (quando faz uma leitura diametralmente oposta).»12
Donde, algumas conclusões são permitidas: importa compreender o olhar; importa estudar as imagens; importa ensinar o olhar sobre as imagens, sobretudo se pensarmos na sedução das estratégias de manipulação do pensamento hoje amplamente associadas aos mass media, desde os dispositivos televisivos aos mecanismos da publicidade ou aos constrangimentos intelectuais de um certo tipo de cinema. A injecção de imagens por segundo em “videoclips”, a profusão de painéis publicitários na paisagem humana, o “voyeurismo” instilado em certos “reality-shows”, a embriaguez de efeitos especiais que se torna sinónimo de espectáculo cinematográfico, constituem meros exemplos referenciáveis num imenso conjunto de casos. À inflexão civilizacional que constituiu a substituição do primado da leitura pelo da imagem correspondeu necessariamente uma outra maneira de o homem se relacionar com o mundo.
«Nuestra civilización nos empuja, no sólo a la amalgama entre lo que es vivir y lo que es ver sino también a la sustitución del todo por la parte, de manera que reduzamos nuestro vivir a nuestro ver. ‘Ver para vivir’ se ha transformado en ‘Vivir para ver’.», resumiu Pilar Aguilar.13
“Viver para ver” - se “ver” for “sem olhar” e se “olhar” for “sem reparar”, como é próprio da indiferenciação que os media por definição estimulam -, é manifestação de pensamento domesticado e de inteligência omissa, pois se as imagens não forem desconstruídas no momento da sua apreensão serão unicamente acumuladas, e não apreendidas, perdendo-se a possibilidade da memória, sem a qual não há matéria para discorrer, e a oportunidade da aprendizagem, pela qual o indivíduo se transforma em pessoa.
Desta maneira, poderemos e deveremos ter legítimas expectativas sobre o papel da escola enquanto efectiva “alfabetizadora”. Antes de mais, “alfabetizadora” no sentido de tentar garantir um “acordo de significações”, fornecendo informação sobre o estudo «dos mecanismos perceptivos apoiados na visão, das regras de composição das imagens, das possibilidades semânticas e dos artifícios retóricos da linguagem visual».14 Depois, diria eu, “alfabetizadora” no sentido de um “desacordo de significações”, no que esta expressão encerra de questionamento, espírito crítico e individuação de perspectivas.
O estado das coisas
Partindo desta e de outras reflexões e da minha longa experiência no ensino Básico, Secundário e Formação de professores, detectei que embora a Escola tenha a percepção de que o “curriculum paralelo” do aluno passa hoje pela imagem (sobretudo televisiva), e se bem que existam alguns esforços ao nível da pedagogia dos media, de uma maneira geral não existiam espaços curriculares onde se interrogassem as imagens, que informações elas veiculavam e, principalmente, como veiculavam elas essas informações (“como” que determina o próprio conteúdo das informações transmitidas), particularmente no que respeita aos filmes enquanto corpos de imagens portadoras de sentido (gramatical, mas igualmente artístico, como já vimos).

Ao nível da legislação escolar em Portugal existem raríssimas referências concretas a este aspecto, se bem que haja um amplo conjunto de objectivos, gerais e específicos, tanto do Ensino Básico quanto do Ensino Secundário, que o poderiam enquadrar - desde os que apontam para a criação de uma cultura humanística recheada de sensibilidade estética até aos que pressupõem a correcta utilização dos saberes e experiências prévios dos alunos.
Havendo enquadramento, a um tempo legal e pedagógico, para o cinema na escola, o que é sintomático, contudo, é que, em tão largo corpo de objectivos e finalidades, não se encontre em caso algum enquadramento didáctico, isto é, terreno ou espaço curricular, para o cinema. Na realidade, mesmo nos programas das disciplinas das áreas de comunicação, introduzem-se noções básicas da literacia visual e inicia-se a desmontagem interpretativa dos códigos específicos da publicidade, incluindo os filmes publicitários. Mas a abordagem não só é insuficiente quanto não aprofunda outros géneros nem outras dimensões. Nos programas da maior parte das disciplinas, seja do ensino de 2º e 3º ciclos seja do ensino secundário, por várias vezes se indica como estratégia de aprendizagem o recurso ao visionamento de filmes ou de produtos audiovisuais, na perspectiva de facilitação na aquisição de conteúdos específicos, particularmente nas disciplinas de “Humanidades” (Língua Portuguesa, Línguas Estrangeiras, História, Psicologia, Sociologia, Filosofia, etc.).
É factual que os docentes aproveitam a utilização de filmes, em suporte vídeo, de uma forma quase instrumental. Não que me repugne tal uso - mas é minha convicção que, se for a única abordagem feita, será redutor e empobrecedor, porque reduz o âmbito de um filme e porque empobrece a visão de quem lhe acede. Se cada objecto fílmico é um microcosmos no qual toda a história da imagem se comprime, pelo que para que o olhar se possa distender a partir dele terá sido necessária uma aprendizagem prévia específica.
Assim, dividirei as possibilidades da utilização do cinema na escola em três grandes domínios: ensinar com o cinema (o filme como simples ilustrador informativo, como, por exemplo, enquanto documento social ou histórico); ensinar pelo cinema (o filme elaborado com propósitos pedagógicos, como é o caso de muitos documentários de criação), e, o que me ocupa aqui; ensinar o cinema (o filme como resultado de uma linguagem e história específicas).
Mas tal aprendizagem exige formação para a imagem em geral e para a imagem cinematográfica em particular («preparar al público al máximo a fin de que su recepción de mensajes se haga en las mejores condiciones de aprovechamiento y en una posición crítica que desmantele en lo posible el resultado de la invasión audiovisual en la que vivimos»15), o que implica que é ao nível da formação de professores que primeiro se deve e tem que insistir:

«No caso do cinema, possivelmente o mais poderoso e explosivo dos media, quem transforma o professor numa pessoa interessada, em um analista sagaz dos géneros cinematográficos, em um contextualizador capaz, em um conhecedor da história e das técnicas, das teorias e das correntes estéticas, em um descodificador de mensagens interculturais, políticas, económicas, sociais, éticas, estéticas e poéticas - em suma, num hábil leitor das linguagens do cinema e um conhecedor da arte cinematográfica em toda a amplitude dos seus dialectos? Só uma formação adequada no campo da pedagogia da comunicação poderia formar convenientemente os educadores.», Vítor Reia Baptista16
Tal formação será o primeiro passo para combater o actual alheamento - ou aproveitamento, que é uma outra forma de alheamento - da escola em relação ao cinema, que se, desde logo, me parece preocupante ao nível da formação global do indivíduo (se pensarmos, nomeadamente, que outras artes são objecto de estudo sistemático), mais grave é se se considerar que “ver filmes” é um hábito relativamente comum à população escolar (neste caso, professores e alunos).
Fornecer os meios aos docentes para que acedam conscientemente aos filmes é o passo necessário para que eles passem da instrumentalização do cinema à compreensão da sua especificidade e importância, o que por sua vez será a etapa imprescindível para que os alunos se relacionem progressivamente com um maior grau de domínio e espírito crítico para com os produtos que visionam, dada a orientação que o docente imprime no momento de tal contacto, previamente a ele ou logo após ele.
Só assim se poderá ensaiar a formação dos próprios alunos, cujo panorama actual, a esse nível, revela profundas deficiências, tanto ao nível de aquilo que os alunos consomem quanto ao nível de como consomem eles o que vêem.
3. Experiência - piloto
Tendo sido feita uma análise de experiências Europeias na Pedagogia dos Media, tendo em conta a realidade Nacional e da Região do Algarve, a Direcção Regional de Educação do Algarve, durante o ano lectivo de 1997/1998 implementou um trabalho de terreno com 15 escolas de 6 concelhos tendo-se efectuado 18 sessões (em sala de cinema) e 7 sessões (em vídeo), apoiado por inquéritos a professores e alunos.
Concluí-se que havia grande entusiasmo por parte da comunidade educativa em ver filmes utilizando outras estratégias que não as da simples análise temática; por outro lado registava-se que os professores estavam dispostos a terem uma formação específica e que sentiam igualmente necessidade de materiais de apoio aos filmes. Era ainda referida a importância de que deveria ser um trabalho continuado no tempo. Quanto aos alunos a ideia de irem ao cinema e saberem mais sobre este médium era notória.
Criou-se ainda um quadro com indicadores de ida à sala de cinema, que acentuava que uma grande maioria dos alunos mais jovens e, sobretudo de concelhos do interior, nunca tinham ido á sala de cinema.
Da mesma forma foram encontrados dados sobre os hábitos de consumo fílmico dos alunos (naturalmente quase a 100% de origem mainstream Americano) e a grande dificuldade na análise fílmica, mesmo que só em termos temáticos.
Esse ano experimental ajudou assim a esclarecer, organizar e escalonar os próprios pressupostos do Programa, dos quais se desenhou um plano organizado e sistemático que deve:
- atender à qualificação dos professores;
- levar os alunos mais do que uma vez à sala de cinema;
- implicar que os filmes sejam objecto de posterior análise em sala de aula;
- promover um trabalho de aproveitamento didáctico - pedagógico do filme em simultâneo, pelos coordenadores e pelos professores, explorando dessa maneira o filme em pelo menos duas direcções (a cinematográfica e a temática), o que permitirá um diálogo e uma abordagem mais profunda e directa com os alunos;
- proceder à avaliação dos conhecimentos adquiridos;
- produzir material adequado (escrito ou em outros suportes) desenvolvendo aspectos abordados em cada filme;
- considerar o carácter lúdico que o acto de ver cinema representa per si.
Em paralelo, desenvolveram-se contactos complementares com parceiros económicos (a que genericamente chamarei mercado) para o aluguer de cópias de filmes e locais de exibição a preços reduzidos.
Contou-se ainda para o arranque do Programa com protocolos com a Direcção Regional do Ministério da Cultura, com o Instituto Português da Juventude e com o Cineclube de Faro, para além da colaboração das Autarquias quer na cedência de espaços, quer no transporte dos alunos à sala de cinema.
A partir de 1999 e até 2008 o Programa JCE teve o apoio do Programa VER do Instituto de Cinema e Audiovisual e durante o ano lectivo de 2000/2001 da Fundação Calouste Gulbenkian.
4. O Programa Juventude/Cinema/Escola - JCE
O Quadro que a seguir se apresenta esquematiza as linhas base do Programa, tal como foi delineado em 1998
4.1 - Objectivos do Programa JCE
- Testar a Capacidade de Observação
- Implementar a análise dos filmes
- Conhecer a linguagem, técnica e História do Cinema
- Promover a avaliação dos filmes
- Reconhecer o Cinema como Meio de Comunicação
- Problematizar o Cinema como Expressão Artística
- Promover a interdisciplinaridade e o trabalho de projecto
Estes objectivos desdobram-se em objectivos específicos de curto, médio e longo prazo, em 3 diferentes campos de intervenção: professores, alunos e mercado.
Para cumprir as várias etapas estabelecidas têm sido realizadas quatro acções de formação por ano lectivo que, além de aprofundarem o trabalho colectivo com os professores envolvidos no Programa, incidiram sobre linguagem e estética do cinema e sobre a explicitação dos objectivos e conteúdos dos filmes que irão ser trabalhados didacticamente com os alunos. Paralelamente realizaram-se Acções de formação de 25h cada, sobre História e estética do cinema e A utilização do filme na aula.
Evidentemente que a operacionalização dos conceitos contidos nestes objectivos é desenvolvida ao longo de um programa em continuidade, partindo do mais genérico para o mais particular, do mais simples para o mais elaborado e do mais concreto para o mais abstracto. Evidentemente, também, neles estão implícitos objectivos de carácter sócio - afectivo, isto é, de uma aprendizagem do espectador enquanto cidadão com hábitos de civilidade, livre, consciente e crítico nos seus hábitos culturais.
Não tendo este Programa uma atitude directa para com o mercado, penso que a sua influência: numa 1ª fase se traduziu principalmente através de benefícios para o próprio JCE, ao conseguir uma diminuição nos seus custos e em fases posteriores potencializará um aumento da afluência de público infanto-juvenil às salas e, sobretudo espectadores mais exigentes, ainda que estes resultados económicos sejam difíceis de avaliar.
Quadro Síntese
Curto prazo | Médio prazo | Longo prazo | |
---|---|---|---|
Professores | Sensibilização para as linguagens cinematográficas. | Aquisição de mecanismos de análise das linguagens cinematográficas. | Intervenção autónoma enquanto utilizadores das linguagens cinematográficas. |
Alunos | Conhecer o filme como objecto a ver em sala de cinema. |
Reconhecer o filme como objecto a ver em sala de cinema. |
Compreender a especificidade da projecção cinematográfica. |
Mercado | Sensibilização para o Programa. | Intervenção nos hábitos. | Aumento da oferta e da procura. |
4.2 - Principais linhas de Programação e estratégias de intervenção
A selecção dos filmes a exibir nos vários níveis da Rede JCE tem como principal constrangimento a inexistência de certos títulos nas Distribuidoras e igualmente a rara oferta de filmes clássicos.
A selecção é pensada para os níveis etários a que se destina, tentando, tanto quanto possível, ir ao encontro do gosto dos alunos e relacionar-se com conteúdos de várias disciplinas curriculares de cada nível.
Propõem - se filmes menos comerciais diversificando cinematografias e géneros cinematográficos com o objectivo de contribuir para uma alteração do gosto dominante e para a formação de um olhar crítico. Em cada nível existe sempre um filme tido como de importância na História do Cinema.
Nas sessões para o Ensino Secundário existe sempre a exibição de uma curta-metragem Portuguesa, antes da longa-metragem.
Encoraja-se professores e alunos a verem e analisarem outros filmes, não apenas numa perspectiva temática (de acordo com o que é sugerido em muitos Programas Curriculares), mas numa perspectiva de obra cinematográfica, logo com uma linguagem específica e resultado de uma evolução histórica.
Todos os filmes são objecto de análise narrativa e pretendem provocar debates temáticos.
Devido às alterações que têm vindo a acontecer nos horários lectivos optou - se, a partir de 2007/2008, por fazer apenas 3 sessões para cada nível em sala de cinema. No entanto, para as turmas que têm o Programa JCE em Área de Projecto, há projecções de outros filmes nas Escolas para aprofundar conhecimentos.
Ensino Básico
Objectivos e critérios de selecção dos filmes a exibir:
adequar os conteúdos ao estádio do desenvolvimento da inteligência destas idades - assim, privilegiar a noção de “género cinematográfico” (facilmente categorizável a partir de exemplos concretos); ensinar as características dos filmes de animação (potencializando dessa forma o contacto frequente de alunos desta idade com esse género, tanto na televisão quanto no cinema; distinguir tipos de cinema de animação; diferenciar cinema de animação e cinema de referente de “imagem real”; identificar “documentário” e “ficção”, e estabelecer as diferenças entre ambos; adquirir noções muito rudimentares de gramática cinematográfica; estabelecer contacto com filmes de diferentes cinematografias; sensibilizar para a existência de autores e de uma história do cinema através do contacto com um “clássico”; tematicamente, sensibilizar para a necessidade da preservação do meio ambiente, através do reconhecimento do direito ao respeito de todos os seres vivos.
Ensino Secundário
Objectivos e critérios de selecção das longas-metragens a exibir: Dimensões da criação cinematográfica;
potencializar a atenção crítica de alunos desta idade para as questões psico-sociais ligadas aos fenómenos actuais de (in)comunicabilidade; distinguir “dimensões da criação cinematográfica” a partir das funções desempenhadas pelos seus diferentes protagonistas; adquirir noções de gramática cinematográfica; estabelecer contacto com filmes de diferentes cinematografias; sensibilizar para a existência de autores e de uma história do cinema através do contacto com um “clássico”.
Objectivos e critérios de selecção das curtas-metragens a exibir:
dar a conhecer o formato da curta-metragem (e a sua linguagem própria); dar a conhecer jovens realizadores portugueses; combater as ideias feitas sobre o cinema português; motivar os alunos a ponderar seguir o cinema como carreira profissional ou semi-profissional.
(Como exemplo, junta-se em anexo, a Programação para o 5º ano de escolaridade do presente ano lectivo)
EB2/3 - 5º ano Nível I
Neste nível pretende-se genericamente que os alunos distingam animação em duas técnicas (de Desenho e Stopmotion) e filmes de imagem Real (Documentário e Ficção).
1ªsessão - Estória do Gato e da Lua, Pedro Serrazina (Port) e As Aventuras de Wallace & Gromit (“As Calças Erradas” e “A Grande Viagem”), Nick Park (GB)
2ªsessão - Microcosmos, Claude Nuridsanny (Fr)
3ªsessão - Há Festa na Aldeia, Jacques Tati (Fr)
Conteúdos1ª sessão
Pré-cinema; Brinquedos ópticos; Breve História do Cinema de Animação; Diferentes técnicas de Animação; Fotograma; Película; a cor como meio expressivo; genérico; sinopse.
A sua consecução será feita nas aulas através de Dossier sobre os filmes e primeiros termos do Dicionário de Cinema e DVD que faz enfoque nos brinquedos ópticos (deverão construir, pelo menos um, normalmente na Disciplina de Educação Visual) e nas técnicas de cinema animação. São igualmente sugeridos outros filmes de Animação para visionamento em sala de aula.
Conteúdos 2ª sessão
Características do Cinema Documental; Cinema Documental como possibilidade de contar estórias; Os primeiros filmes - Os Irmãos Lumière; A música como reforço de emoções; Picado e contra-picado; Slowmotion e velocidade acelerada.
Em sala de aula os alunos verão alguns dos primeiros filmes dos Lumière e de Thomas Edison e identificarão características do Documentário, assim como conhecerão o Kinetoscópio e o Cinematógrafo. Compararão igualmente documentários e reportagens televisivas com o filme visto no cinema; O filme Microcosmos é também objecto de análise em termos de conteúdos curriculares de Ciências da Natureza. Como estratégia complementar os alunos poderão experimentar fazer um filme sobre o quotidiano à maneira dos Irmãos Lumière.
Conteúdos 3ªsessão
O cinema de Ficção; O género da Comédia; A Comédia no Cinema Mudo - Charlie Chaplin e Buster Keaton; o Gag; A Comédia num autor como Jacques Tati; O Gag sonoro.
Os alunos verão algumas situações de Gags dos principais autores da comédia do Cinema mudo. Poderão escrever situações cómicas e, posteriormente filmá-las. Este trabalho é preferencialmente feito com o Professor de Língua Portuguesa.
Sequência das Actividades
- Reuniões com os professores envolvidos (uma no início de cada Período, para preparação das actividades e uma no final do ano lectivo, para balanço e análise da forma como decorreu o Programa)
- Ida à Sala de Cinema
- Aplicação de Ficha
- Correcção da Ficha recorrendo a montagem de Vídeo/DVD
- Elaboração de trabalhos complementares sobre os filmes 6.Concurso dos Trabalhos (a avaliar por júri independente)
- Mostra dos Trabalhos (exposições, página da Internet, programa de rádio)
- Festa/Gala do Cinema (a decorrer no final do ano lectivo) com todos os alunos de cada ciclo de ensino da Rede JCE.
4.3 Medidas Paralelas Implementadas
- Criação de dinâmicas próprias nas escolas (de referenciar, por exemplo, a existência de 3 Clubes de cinema)
- Criação de arquivos escritos e audiovisuais nas escolas
- Realização no final de cada ano lectivo das “Festas do Cinema”, onde são entregues prémios aos melhores trabalhos de recepção aos filmes vistos. Exposição de trabalhos (uma, no final de cada ciclo - 2º,3º e Secundária)
- realizadas 24
- Organização de visitas de estudo a locais de interesse no âmbito do cinema (ANIM, Cinemateca Portuguesa, Tóbis, Escola Superior de Cinema) - realizadas 10
- Debates com profissionais do Cinema (realizadores, actores, técnicos…).
- Iniciativa designada por “Vou levar os meus pais ao Cinema!”, em que se pretende que os pais tenham uma participação mais activa na Educação em geral e neste programa em particular - desde 2007/2008 - 5 iniciativas
- Implementação da Disciplina de Opção de Cinema no 3º ciclo - desde 2005/2006 - 5 Escolas envolvidas
- Mostra de cinema de âmbito escolar - desde 2007/2008, promovida pela Disciplina de Cinema da EB2/3 João da Rosa - 2 edições
- Projecto VER para LER, de parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares - 2008/2009 - 2 iniciativas
- Formação de Professores em 2 Acções creditadas pela FOCO - 12 edições
4.4 Medidas a implementar
- Criar uma página na Internet com informações sobre o Programa JCE, que inclua “links” sobre filmes e cinema em geral.
- Criar um Programa de ensino de cinema para o 1º ciclo.
- Firmar protocolos com Exibidores que permitam a criação de bilhetes com desconto, para filmes aconselhados previamente pela coordenação do Programa, para alunos da Rede JCE.
- Procurar firmar novos protocolos de colaboração, nomeadamente com outras entidades ligadas ao cinema, como centros de investigação de Universidades
- Promover um trabalho com a avaliação do Programa nestes 12 anos
- Promover a implementação da Disciplina de Opção de Cinema num maior número de escolas
- Editar o Manual da Disciplina de Cinema
5. Estatística
Quadro com os números de escolas, professores, turmas e alunos envolvidos no Programa desde 1998/1999 até ao presente ano lectivo.
Quadro com o Número de Sessões de cinema, por ano lectivo
ESCOLAS | TURMAS | PROFESSORES | Nº DE ALUNOS | |||||
ANO LECTIVO | EB | SEC. | EB | SEC. | EB | SEC. | EB | SEC. |
1998 / 1999 | 8 | 8 | 34 | 30 | 21 | 14 | 462 | 280 |
1999 / 2000 | 19 | 10 | 80 | 66 | 69 | 42 | 1.643 | 1.345 |
2000 / 2001 | 22 | 10 | 87 | 32 | 71 | 25 | 1.760 | 642 |
2001 / 2002 | 22 | 10 | 106 | 28 | 106 | 30 | 2.212 | 654 |
2002 / 2003 | 15 | 7 | 92 | 16 | 66 | 14 | 1.650 | 252 |
2003 / 2004 | 23 | 8 | 118 | 17 | 111 | 14 | 2.588 | 366 |
2004 / 2005 | 20 | 7 | 86 | 15 | 99 | 15 | 2.005 | 378 |
2005 / 2006 | 20 | 7 | 101 | 22 | 108 | 22 | 2.299 | 470 |
2006 / 2007 | 19 | 5 | 76 | 17 | 66 | 14 | 1.697 | 315 |
2007 / 2008 | 13 | 7 | 52 | 27 | 62 | 21 | 1.281 | 662 |
2008 / 2009 | 14 | 7 | 57 | 25 | 68 | 21 | 1.300 | 511 |
2009 / 2010 | 14 | 10 | 70 | 44 | 83 | 37 | 1.579 | 925 |
TOTAL | * | 959 | 339 | 930 | 269 | 20.476 | 6.800 | |
1.298 | 1.199 | 27.276 |
6. Conclusões
Quando se lançou este Programa na Direcção Regional de Educação do Algarve, estávamos cientes que se tratava de um Programa inovador a nível nacional que só podia ser bem sucedido se houvesse envolvimento por parte de várias entidades públicas e privadas e das escolas e dos seus principais actores. Volvidos mais de 10 anos - comemorámos 10 anos com a Milésima Sessão, em Junho de 2008 - o balanço que poderá ser feito é extremamente positivo.
Tal resultou do apoio das Autarquias, dos Exibidores, das Distribuidoras, dos parceiros locais como o Cineclube de Faro e evidentemente do Ministério da Cultura, através do ICA, apoio esse que neste momento é fundamental que continue a existir no sentido de permitir um incremento do Programa. Parece-nos ser este o tipo de protocolo entre educação e cultura que pode potenciar dividendos óbvios nas duas áreas.
Os números demonstram ser esta uma experiência de sucesso em termos quantitativos. Mas, principalmente, contam os aspectos qualitativos, que têm sido demonstrados pela avaliação anual, através dos resultados de Fichas de avaliação de aprendizagens. Da mesma forma, a avaliação feita pelos alunos, anualmente, quanto ao interesse do Programa reforçam a aplicação das estratégias postas em prática. Outro aspecto relevante prende-se com a consistência dos produtos realizados quer a nível das artes plásticas, quer escritos e também na produção fílmica, num percurso de desenvolvimento de possibilidades de comunicação e expressão artística.
Em relação aos professores, há realmente uma Rede consolidada de professores que trabalham cada vez mais e melhor, investindo igualmente na sua formação pessoal.
Por outro lado, têm vindo a ser criadas dinâmicas autónomas em várias escolas e, evidentemente que é de realçar a Disciplina de Opção de Cinema que tem vindo a ser implementada em mais escolas e para mais turmas, havendo já 2 escolas que têm mais que um professor a leccionar a mesma.
Se o lema deste programa é: VER, APRENDER, AMAR CINEMA cremos que estamos a cumprir com os objectivos e a contribuir para a literacia visual. Conhecemos já várias centenas de alunos que foram crescendo com o Programa - do 5º ao 12º. Alguns foram para cinema, mas principalmente são muitos os que se sentem hoje mais cinéfilos.
Foi nesse sentido que investimos o nosso esforço, para contribuir para uma escola democrática que permita dar a todos instrumentos que permitam a opção de escolha e a consolidação de um percurso de cidadania consciente.
Bibliografia
AGUILAR, Pilar - Manual del Espectador Inteligente, Madrid, Ed. Fundamentos, Col. Arte, Serie Imagen, nº 114, 1996
BENOIST, Jean Marie - Tyrannie du Logos (Paris, Éditions du Minuit), Ed. port. Tirania do Logos, Lisboa, Rés Editora, trad. Manuela Russo e José A. Graça, s/d
CALADO, Isabel - A Utilização Educativa das Imagens, Porto, Ed. Porto Editora, Col. Mundo dos Saberes, nº 8, 1994
GÓMEZ, José Ignacio Aguaded (org.) - El Cine en las Aulas, Huelva, Ed. Grupo Comunicar, Rev. Comunicar, nº 4, 1995, e nº 11, 1998
MARTEL, Javier González - El Cine en el universo de la Ética. El Cine-Fórum, Madrid, Ed. Alauda-Anaya, 1996
MORIN, Edgar - Le Cinéma et l’Homme Imaginaire (Paris, Éditions du Minuit, 1958), Ed. port. O Cinema ou o Homem Imaginário- Ensaio de Antropologia, Lisboa, Moraes Editores, Col. Mundo Imediato, nº 7, trad. António Pedro Vasconcelos, 2ª edição, 1980
PIAGET, Jean - Psychologie et Épistémologie (Paris, Éditions Denöel-Gonthier, 1976), Ed. port. Psicologia e Epistemologia - para uma teoria do conhecimento, Lisboa, Publ. D. Quixote, Col. Universidade Moderna, nº 29, trad. Maria de Fátima Bastos e José Gabriel Bastos, 2ª Ed., 1976
PINTO, Manuel e SANTOS, António - Guia do Professor - O Cinema e a Escola, Porto, Ed. Jornal Público, Col. Cadernos Público na Escola, nº 6, 1996
TORRE, Saturnino de la (coord.) - Cine Formativo - una estrategia innovadora en la enseñanza, Barcelona, Ed. Octaedro, Col. Recursos, nº 19, 1996
Notas
1Edgar Morin, O cinema e o homem imaginário, pp 31-32.
2Jean Piaget, Psicologia e epistemologia - para uma teoria do conhecimento, p. 99, subl. meu.
3 Cf. síntese de Isabel Calado em A utilização educativa das imagens, pp 40-44
4A leitura de Platão - pilar filosófico da civilização ocidental, só 20 séculos depois problematizado por Nietzsche - por autores como Gilles Deleuze aponta exactamente para o desvelamento dessa carga visual nos alicerces do sistema filosófico platónico, carga aliás associada ao poder tirânico do logos socrático-platónico. V., entre outros, síntese desta perspectiva crítica em Jean Marie Benoist, A Tirania do logos.
5 Não é assim por casualidade que a imagem é utilizada, por exemplo, como estratégia para a aprendizagem da leitura verbal.
6 Isabel Calado, A utilização educativa das imagens, p. 27.
7 Edgar Morin, op. cit., p. 113.
8 Id., Ibid., pp. 18-24.
9Pilar Aguilar, Manual del espectador inteligente, p.65.
10Isabel Calado, A utilização educativa das imagens, p. 71. cf. ainda Id., «O alfabetismo implica que os membros de um mesmo grupo atribu- am os mesmos significados aos mesmos signos. É esta partilha de significados que tem de ser aprendida, pois ler é aqui diferente de ver.», p. 49.
11Porter-Moix, cit. por Javier González Martel, op. cit., p. 136.
12“A linguagem cinematográfica na pedagogia da comunicação”, Revista Comunicar, nº4, p.107. É também esta a convicção defendida por Lluís Tort I Raventós em “El Cine: de informar a formar”, Cine formativo - una estrategia innovadora para los docentes, p. 32, ou por Saturnino de la Torre, “El cine, un espacio formativo”, Id., pp. 15-27.
13Pilar Aguilar, Manual del espectador inteligente, p.65.
14Isabel Calado, A utilização educativa das imagens, p. 71. cf. ainda Id., «O alfabetismo implica que os membros de um mesmo grupo atribu- am os mesmos significados aos mesmos signos. É esta partilha de significados que tem de ser aprendida, pois ler é aqui diferente de ver.», p. 49.
15Porter-Moix, cit. por Javier González Martel, op. cit., p. 136.
16“A linguagem cinematográfica na pedagogia da comunicação”, Revista Comunicar, nº4, p.107. É também esta a convicção defendida por Lluís Tort I Raventós em “El Cine: de informar a formar”, Cine formativo - una estrategia innovadora para los docentes, p. 32, ou por Saturnino de la Torre, “El cine, un espacio formativo”, Id., pp. 15-27.

Graça Lobo
Graça Lobo é Mestre em Gestão Cultural com Tese em Formação de Públicos para o Cinema. É co-autora e Coordenadora do Programa Juventude/Cinema/Escola da Direcção Regional de Educação do Algarve desde 1997/1998. Foi professora, supervisora na Formação de Professores da Escola Superior de Educação do Algarve e professora convidada pela Universidade do Algarve para disciplinas de Cinema. É co-autora do Programa da Disciplina de Opção de Cinema no 3º Ciclo. Tem vindo a realizar dezenas de acções de Formação na área do Cinema. É Vice-Presidente do Cineclube de Faro. Coordenou várias publicações na área do cinema.