Editorial
Editorial
Resumo
EDITORIALInternational Journal of Cinema (IJC) is an academic journal of cinema that focuses on the interrelationships between multimedia and technology. Within this complex constellation, we emphasize the creative vision of individual artists. We do not subscribe to any theory or perspective, and are open to a wide gamut of approaches that attempt to explore the role of cinema and media within the diverse social, economic, cultural and artistic influences that govern the ever-evolving field of cinema and media.
We consider the cinema “to be without walls”, global in outlook and local in practice. Our bases stretch from the Northwestern boundaries of Europe to the Northeastern boundaries of the Far East, and we welcome participation and leadership from countries large and small, East and West, North and South.
The International Journal of Cinema is published by the association, Debatevolution, and emerged from the synergies created by the AVANCA | CINEMA – International Conference Cinema - Art, Technology, Communication.
This peer-reviewed journal publishes original scholarly articles, books and films reviews. Its online version will contain interviews with filmmakers, forum topics, and media-rich content that will take advantage of the rich multimedia options available on the Internet.
As part of our multi-cultural and multi-lingual approach, the journal will be published in English and Portuguese, along with special editions in other languages.
Our first issue will be devoted to looking backward and looking forward. We will go backward to Avanca Film Festival’s inaugural conference in 2010, and move forward to 2011. This issue promises to create an exciting dialogue between the present, past and the future of cinema and media studies.
Philip David Zitowitz
IJC - UM QUADRADO ENTRE VOOS
Sem som, sem ruídos, num quase negro absoluto, o tempo prepara-se para marcar as 8 horas da manhã de um domingo qualquer.
O volume de ar percetível e provavelmente enclausurado, dá a dimensão gigante deste espaço a que passamos a chamar hangar.
Um hangar de onde pequenos estalos acordam um ruído baixinho, crescente e cúmplice, talvez se invente ou até se adivinhe a presença de aviões apertados, talvez esmagados entre si, ocupando um espaço que os sobre-passa, que os imobiliza. Provavelmente o hangar mais não é do que uma imensa lata de uma insuspeita conserva, de rija oposição à temporalidade, algo pouco mutável, fortemente lacrada, reservando-se à surpresa, possíveis, prováveis, prolíficos, imensos motores vorazes, diferentes, possantes e encaixados em hélices, asas, cabines, estruturas. Inventa-se claro, ou não será esse o designo do primeiro olhar do conhecimento zero?
São quase horas. Uma brutal força de alguém começa a mover devagar, aos sacões, continuadamente, libertando aparentemente sucessivos cadeados, elevando os primeiros centímetros do agora visível amplíssimo portão.
A luz da manhã invade o chão de rajada, reflete-se, mistura-se, revela e sobretudo encandeia todos os olhos.
Mais luz, mais hábito, mais ruído e o portão sobe mais e volta a subir. Em frente, uma pequena praça de aldeia convida a tudo, menos a um voo rasante de avião.
Uma praça pintada de luz reveladora de mais um espaço fechado. Circunscrito a um tamanho que até pode muito bem ser menor que todo o imenso espaço apinhado do hangar.
Portão levantado, invasão total da luz, o silêncio volta a instalar-se... brevemente.
Hangar e praça. Bombo e... uma banda de música irrompe surpreendentemente pela praça. Centenas de bombos saem do hangar, ribombantes, ensurdecedores, antecipando estridentes sopros de gaitas, clarinetes, metais musicais e grandes tubas síncronas a corpos gigantes de pessoas possantes.
São centenas, com e sem fardas, acertando músicas ou simplesmente multiplicando-lhes as construções musicais e marcando áreas de atuação. A música, invasora, competitiva, multiplicadora, levanta os ponteiros da manhã de domingo e o relógio obriga a um inesperado levantar da praça.
Reduto pequeno, aparentemente. Suficiente, inesperadamente. Amplificador, obrigatoriamente.
Gente surge sem que os instrumentos os acompanhem. Palavras procuram sentidos entre as aparentemente abstratas construções musicais, ruídos novos dessincronizam vontades de unidade e entre os recantos de toda a praça, cadeiras dão lugar a magotes de ideias, diálogos, interrogações, perspetivas, desejos, descobertas.
Palavras, ruídos, música e alguns silêncios. Perceção, incompreensão - a praça é cruzada por cadeiras disponíveis a ouvir, a discernir, a direcionar atenções, a equacionar desejos / vontades / escolhas. De um todo musical, agora que todas as persianas acordaram, que gente tomou o rumo do dia, que o domingo predispõe a um outro estar, pequenas músicas espalham-se e dispersam vontades, especializando recantos.
A voz, a presença, o saber antigo, as informações momentâneas, os objetos improváveis, os testemunhos que pretendem atestar verdades, a posturas das mulheres e homens ali reunidos, trazem as notícias de um saber que a todos parece convir escutar. Disponíveis para os porquês, para todas as interrogações, para percorrerem virtualmente metodologias, para avaliar rigores, para pesar trabalhos desenvolvidos, aferir “a verdade”, correlacionar saberes, parametrizar afirmações, visualizar desenvolvimentos, aplicações, conflitos, sustentabilidades.
Homens e mulheres substituem a unidade da banda por outros sons. Cada novo som é uma procura e uma solução, é um percurso que justifica debate, que faz com que a praça seja primordialmente o levantar do véu, das disponibilidades públicas subjacentes à divulgação.
A praça divulga o que o hangar escondeu, aglomerou, trabalhou?
À praça parece compelir a deixar voar todas as imaterialidades e quase todas as imagens e sopros de asas diversas. Sobretudo parece que lhe compete mostrar que tudo o que está no hangar vale a pena ser espreitado, com o pudor da atenção e com o rigor da interrogação pertinente.
A luz invasora deixa agora visível a compartimentação, a arquitetura e começa a poder-se escrutinar por ali, quase tudo o que se ouve, se lê e se discute na praça.
O enorme hangar faz rugir os seus escondidos motores e parece que afinar, por ali, os aviões avultam.
De cor viva, uma passadeira estende-se entre o hangar e o centro da praça. Um caminho traça-se e a ligação entre dois espaços parece poder ficar agora mais clara (ou será só mais organizada?).
No topo do novo corredor, a praça parece ser um entrave ao voo que parece ter alimentado a existência do hangar. Se são aviões, como podem dali sair? Onde estarão as pistas que os compelem ao uso das asas? Será barreira esta conjuntura de cadeiras, recantos, janelas, persianas, arquitectura construída, desenho de muitos pequenos lugares em sítio amplo?
Será que o hangar ali chegou para que a praça possa rever todas as histórias dos voos que por ali encontraram o seu espaço? Será que à praça competirá prever dinâmicas, configurações e materialidades de próximos e provavelmente inusitados voos?
A estreita passadeira parece que tem de se alargar. As perguntas são muitas e a passagem impetuosa de rápidos “vai e vem”, parece obrigar a cortar distâncias. Afinal, divulgar e questionar na praça parece viver na contínua visita ao hangar. Pessoas, projectos, produtos, percorrem de forma voraz uma passadeira que de tanto se alargar e de tanto se aproximar, é agora um quadrado.
Um Quadrado
Quatro lados para autorizar visões amplas. Quatro lados de passagem para que nada fique enclausurado. Quatro lados iguais para que nenhuma direção seja obrigatória.
O Momento Primeiro
Entre os limites da divulgação, no seio das forças do debate, na corrida rasgada pelos traços do conhecimento / investigação, nasce um quadrado e um nome para ele.
Um quadrado batizado “IJC - International Journal of Cinema”.
Um primeiro número, páginas de um momento primeiro.
Poderia agora cair um aerograma, perdendo-se entre páginas (quadradas claro...), abrindo-se voraz de movimento veloz (mas por isso volátil...).
Um aerograma transportado nos porões de um avião obviamente anónimo, roncando a notícia do novo quadrado espesso porque a força da presença há-de ter que ultrapassar imobilidades, desatenções, o dormir.
Pouco mais papel será preciso que a fina leveza quadrada de um aerograma. Afinal bastará dizer... chegámos...
Em Voo Tóquio - Avanca
Entre passagens múltiplas, conhecimento múltiplo, ares, direções, rotas, percursos, a forma somará justificação a uma passadeira que nasceu entre voos.
Voando entre divulgação e conhecimento, entre academias e laboratórios, esta é uma rota que se estende entre Avanca e Tóquio, baralhando as noções de hangar e praça como se a rotação do quadrado tudo questione.
Entre um canto e outro, altivam-se viagens abruptas para que voar seja pairar todo o tempo numa globalidade de distância afinal imensurável. Os aviões farão um aperto de mão, a vénia incontornável, até para um abraço vão quase poder empurrar ambos os lados da agora presente contenda. As redes fazem tudo o resto... incluindo a mortalidade da distância.
Restará a viagem, impreparada, ziguezagueante.
Avanca e Tóquio não são início e fim de viagem, mas metades de todas as escalas que as metades das ideias forem traçando a meia cota de um meio afastamento capaz da metade de um ideia multiplicadora de meias verdades, meias sugestões e convictas meias hipóteses.
Voar e alma, traçando limites e paragens que não são eternas. Nem sequer metade disso...
Susurros Impenetráveis? Marcas de Exclusão?
Entre papéis que brisas inesperadas revolteiam entre espaços, palavras impressas assim aerotransportadas parecem dar sentido a uma leitura audível. Som rasante entre a perceção de leituras ou a pura aeroglifada inócua de ruídos não sentidos, áudio blindado quase perturbante de não comunicável.
Barrar fronteiras ou pura assunção da fragilidade dos nossos instrumentos de toque entre pares, entre desconhecidos ou só entre quem se aproxima e tenta o diálogo dizer/ouvir.
Assume-se a roleta como meio final de travar entalhes entre procuras e descobertas. Assume-se que entre as muitas brisas possíveis os papéis impressos podem conter instrumentos díspares da nossa amálgama de vivências.
Por cada mesa, por cada sombra, pelas paredes interiores do hangar, espalha-se a imponderabilidade da comunicação, anarquicamente semeada entre o poder de quem a produz e a capacidade decifradora de quem apanha os textos e os procura ler.
Deixamos ao volteio das páginas a experiência da inclusão/exclusão, mas será esta linear leitura assim tão taxativa, tão univocamente sim/não?
Entre o português, o inglês, há-de-se meter por ali o japonês e do mirandês “não lavamos as mãos”.
Entre a praça e o hangar, o traçado do quadrado há-de ditar amplitude para um futuro sem torre que de Babel até poderá tomar o nome.
O Lugar do Cinema, o Lugar dos Filmes
Forte e vibrante. Latência de histórias múltiplas vivendo em recantos.
De entre muitas, poderíamos esperar a volta da banda de música.
Poderia atravessar e encher a passadeira de cores vivas, com todos os instrumentos conhecidos a jorrarem poder/saber e marcar-se-ia a inauguração deste projeto com uma música síncrona, acertada, bem delimitada.
Preferimos no entanto que muitos sons encontrem muitas imagens, que a praça esteja disponível para deixar que a noite a visite.
O hangar encarregar-se-á de fazer voar luz sobre a passadeira e filmes projectar-se-ão na praça.
A luz do cinema faz voar.
IJC surgirá no ecrâ e levá-lo-á nos seus voos. Na praça multiplicar-se-ão todas as histórias. A cada incerto momento um novo filme levantará um abrupto bater de asas.
Longa vida...
António Costa Valente
This issue of the International Journal of Cinema focuses on the essays that have been especially selected from the first two volumes of the Conference AVANCA | CINEMA. These essays can be found in the last section of the journal, and are written in the languages in which they were originally published; thus, reinforcing our decision to make the IJC bilingual.
It must also be understood that the essays follow the formatting and style guidelines defined for the Conference, and each essay opens with a text from the author(s), whose objective is to update and comment on his/her previous research.
Our goal is to analyze cinema in such a way that it is engaging to academics as well as to cinephiles. In the first section of our journal, we have included interviews, film reviews and book reviews in order to more comprehensively represent both the creative and scientific aspects of our 7th Art---the cinema.
Este número do IJC foi organizado em torno dos artigos especialmente selecionados das duas primeiras edições da Conferência AVANCA | CINEMA. Estes constituem a última secção da revista e encontram-se na língua em que foram publicados originalmente, tendo em conta a opção bilingue (inglês-português) que está na base do projeto do International Journal of Cinema.
Por outro lado, neste número exclusivamente, os artigos apresentados seguem as regras de formatação e de estilo definidas no âmbito da Conferência e cada artigo abre com um texto do(s) autor(es), que visa atualizar ou voltar a debruçar-se sobre o seu conteúdo, originalmente redigido em 2010 ou 2011.
A parte inicial do IJC, para além das notas dos editores, inclui várias secções cujo objeto de estudo, o Cinema, é analisado sob um olhar que junta a academia à cinefilia. As entrevistas, as recensões de filmes e de livros representam assim os primeiríssimos capítulos desta nova revista dedicada à 7ª Arte, respondendo deste modo à nossa preocupação de uma visão abrangente, criativa e científica.
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.